Mel Moura Moreno

Cale-se ou Tempo Perdido

Não à Censura

Esta poesia de Renato Russo, data do ano de 1986, ele era um leitor contumaz e a inspiração para essa canção vem de uma de suas leituras de Marcel Proust, em sua obra “Em busca do Tempo Perdido”, lançado em 1913.

Uma das frases célebres dessa obra registrar o momento de epifania que fará o narrador reconstituir sua vida, desde a remota infância até o momento presente, sua maturidade:

“Cessara de me sentir medíocre, contingente, mortal.
De onde me teria vindo aquela poderosa alegria?\”
 

A cena é antológica, quando a personagem mergulha um pedaço de bolo, conhecido como Madeleine, numa xícara de chá, e permite-se transportar pela memória.

“Todos os dias quando acordo
Não tenho mais o tempo que passou
Mas tenho muito tempo
Temos todo o tempo do mundo”

É sabido por todos que o passado é permanente, podemos dar novos significados a conteúdos traumáticos, através da psicoterapia, da hipnose, só isso.

Já, o presente é contingente, nele tudo é possibilidade, por “tenho muito tempo / temos todo o tempo do mundo.”

“Todos os dias antes de dormir
Lembro e esqueço como foi o dia
Sempre em frente
Não temos tempo a perder”

Uma prática saudável que sugIro na Mentoria do Autoconhecimentoconstruída e personalizada para cada cliente é, antes de dormir, passar a limpo o dia.

Lembrar o que foi vivido no dia, alinhar os pontos de avanço, os pontos de limitação e apontar o aprendizado do dia, as ações de avanço para o dia seguinte.

Após essa atividade, “sempre em frente / não temos tempo a perder”, afinal o sono é garantia de saúde mental e física, para que despertemos com força para realizar nossos objetivos.

“Nosso suor sagrado
É bem mais belo que esse sangue amargo
E tão sério e selvagem
Selvagem, selvagem”

“Nosso suor sagrado” remete à frase de Thomas Edison: “A genialidade é 1% inspiração e 99% transpiração.”
Uma alusão clara à nossa capacidade de criar, de sermos gênios e perseverantes em nossos objetivos.

“É bem mais belo que esse sangue amargo”, lembrando que a ditadura teve seu fim em 1985, um ano antes da criação dessa obra, numa menção à música Cálice, composta por Chico Buarque e Milton Nascimento.

Os versos: “como beber dessa bebida amarga”, trazia a referência à dificuldade de aceitar um cenário social onde as pessoas eram subjugadas e “caladas-censuradas” de forma selvagem, não se podia expressar ideias, sentimentos e atitudes contrárias ao poder militar.

Um convite ao leitor:

“Veja o sol dessa manhã tão cinza
A tempestade que chega é da cor dos teus olhos
Castanhos”

Ver o sol é ver luz, cores dessa manhã tão cinza, é uma antítese da vida “a tempestade que chega é da cor dos seus olhos / Castanhos”, nos traz a possibilidade individual de ver, de entender a realidade: ver o sol? Ver a manhã cinza?
Tudo está na forma como você vê, encara a vida e seus desafios, tempestades.

“Então me abraça forte
Me diz mais uma vez que já estamos
Distantes de tudo
Temos nosso próprio tempo”

A necessidade de apoio, de união, para acreditar que o tempo cinza da ditadura, já passou. [será que não estamos diante da possibilidade de outra \’ditadura\’?]

Está distante. [Espero, desejo e farei a minha parte para que sim, tenha ficado no século passado.]

Afinal, “temos nosso próprio tempo”, para construir um novo cenário social, individual.

“Não tenho medo do escuro
Mas deixe as luzes acesas agora
O que foi escondido é o que se escondeu
E o que foi prometido, ninguém prometeu”

Ter medo do escuro é uma atitude própria da criança, que – por não ver – preenche a escuridão com seres ameaçadores (nesse caso, volta da ditatura, por exemplo).

Por segurança, “deixe as luzes acesas”, para que eu possa ver. “o que foi escondido é o que se escondeu / e o que foi prometido, ninguém prometeu”.

Os crimes políticos sem solução (na época – muitas vezes sem corpos), as promessas feitas e não cumpridas, mas dissimuladas pelo poder de então.

“Nem foi tempo perdido
Somos tão jovens
Tão jovens, tão jovens”

Não foi Tempo Perdido para todas as pessoas que lutaram pelo final da ditadura militar.

O Brasil, na ocasião era jovem, poderia mobilizar os jovens, para a mudança.
Essa mobilização aconteceu, pois, a maioria da população, de modo apartidário foi às ruas pedindo Diretas Já.

E hoje, 39 anos depois, o Brasil precisa de maturidade, para entender o momento delicado que vive a Democracia.

O poder do voto, a eleição de pessoas, a corrupção descarada, a volta da censura veladamente explícita e conivente.

Não!

Não é inteligente fazer com que a música Cálice (Cale-se) [clique para ouvir e escutar] de Chico Buarque volte a ser o tema, decorando a nossa realidade em 2023.

“A bebida amarga” da mentira, da dissimulação, da corrupção, da irresponsabilidade, da ausência de moral e ética por suas obrigações funcionais e cidadania… Não.

\”Pai, afasta de mim esse cálice

Como beber dessa bebida amarga?
Tragar a dor, engolir a labuta?
Mesmo calada a boca, resta o peito
Silêncio na cidade não se escuta
De que me vale ser filho da santa?
Melhor seria ser filho da outra
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta

Pai, afasta de mim esse cálice\”

Eu acredito que: Não foi tempo perdido.
Não queremos mais o sacrifício de nos calar.
Mesmo que, censurados e exilados no passado – por conveniência – hoje digam SIM.
Hoje, quem possui sanidade mental, boa memória e valores morais e éticos reais diz: NÃO.

Podemos Não ser mais tão jovens, mas existem JOVENS inteligentes, para que – de modo apartidário – possa compreender as REAIS necessidades do país e apoiar o que é favorável para o Brasil respirar e iniciar uma fase de crescimento sustentável, de fato, “com as luzes acesas”, às claras, com as cartas na mesa.

Compartilhe este artigo musical com pessoas queridas que merece viver melhor O SEU MELHOR TEMPO sem ser vítima do CÁLICE.

Pense. Decida. Vote com a sua consciência, moral e ética!

Lidere.

Juntos até o TOPO.

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